quarta-feira, dezembro 20, 2006

X


Sandro Botticelli, Primavera, c. 1478, Galeria degli Uffizi, Florença.

Chamemos-lhe X. Não por se tratar de um ser alienígena ou de um agente secreto ao serviço de um qualquer governo. Pensando melhor, talvez seja mesmo um agente secreto, mas dos verdadeiramente redentores ou mortíferos.
Sem que me ocorra qualquer advérbio que aqui expressasse o que pretendo, X assume várias faces. Mais do que Juno, não contempla somente o fim de um ano e o início do próximo, mas comporta-se mais como Cérbero que tudo vê, tudo perscruta.
Ele há-o em estado puro, surgido do nada ou de uma relação construída no desfiar do Tempo. Ele há-o rápido, certeiro, fugaz, sem deixar marcas (será mesmo X ou X-1?) ou cujas marcas permanecem coladas com um produto que se arrasta e vai corroendo as fundações, que laboriosamente rói as traves-mestras de um sumptuoso edifício até que ele cai. E quando cai ou se reergue (a imagem de Fénix aqui já está puída) ou fecha de vez o ser a X.
Há-o ainda hesitante, inseguro, necessitando de certezas absolutas que nunca chegam. E, claro, o X acomodado. O que tem demasiado medo de viver sem o respectivo quadrado (X ao quadrado – não encontro a tecla que dá para colocar o símbolo matemático…) ou que imagina que o tal quadrado, afinal, é tudo o que deseja e o que sente é um desmesurado temor de se expor. Ao Outro. A Si Mesmo.
Há-o doentio (não será todo o X doente?), de ciúmes construído, de paradoxos alimentados, de infantilidades pejado, de figuras ideais que o tal quadrado nunca poderá atingir e que o X insiste em que se tente lá chegar tantas vezes para dizer a si mesmo que não pode ter um quadrado em permanência mas vários quadrados que vão formando a quadratura do círculo ou o fechamento da abóbada que permanece escancarada.
Óbvio, há-o permanente, duradoiro, intenso mesmo ao longo de anos e anos. Raro? Talvez. Todos conhecemos no entanto vários desses X. Muitos deles, provavelmente, geraram-nos (falta o Y, claro).
Afinal quem ou o que é o raio do X? Nada disto? Tudo isto? Não sei. Duvido que alguém saiba. É pretensioso escrever sobre isto? Por certo. Então para quê escrevê-lo? Simplesmente porque sim, porque me apeteceu. Não é essa razão suficiente? Talvez seja a melhor maneira de começar a entender 0,000001 % de X.
Ah! Toda esta "chorreada" (a palavra é um perfeito ignoto) melodramática bipolar e levemente maníaco-depressiva a propósito de um filme que acabei de ver: “The Holiday”. O título em português iria fazer X corar de vergonha tamanha é a pirosice.
O quadro do pretensioso connaisseur de arte foi achado muito apropriado ao desfolhar as páginas de uma excelente prenda (ou presente? Nunca sei como é mais pretensioso…) que acabei de receber.
Bem, deixo-vos em paz. Por ora e com a chave 1 X 2.

3 comentários:

rtp disse...

O "X"`é um lugar (muito) estranho!

rocky disse...

Agente secreto?! Não será X a toutinegra futurista? Ou teremos todos um pouco de X, esperando embora que existam alguns YY à nossa espera?

Anónimo disse...

A culpa é do xistema!