sábado, outubro 21, 2006
Greve
Despertei. As primeiras frias e grossas gotas de orvalho penetraram-me na pele como lâminas assanhadas. Os poros pelos quais respiro contraem-se ao invés de se distenderem de modo a permitir que a líquida seiva atinja a profundeza do meu ser. Reajo à contracção e ordeno aos meus grãos que se afastem. Sufoco. O orvalho transforma-se em bátega que cai sem dó sobre a planície. O velho carvalho em vão me protege. Procuro raízes antigas às quais me agarre, mas nada mais consigo que um lento chorar. Sim, a terra também chora! E não é a água que cai que se confunde com o salgado sabor de uma lágrima carpida pelo elemento mais fundamental da vida. Desisto de dar ordens aos meus grãos. Declaro: a terra fez greve ao entrelaçar com a chuva.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
5 comentários:
Diga lá quando é que lança um opusculozinho?
Minha querida amiga (permita-me que a trate assim, depois do seminário de quarta-feira:)),
Ainda tenho muito a aprender, mas conto com a sua ajuda. People in high places with excellent contacts... You know what I mean...
Bjks.
Et voilà! E eis que se constata (embora dúvidas não existissem) que filipelamas é tão bom na prosa como na poesia. Se bem que este pedaço de prosa está eivado de poesia. Muito bem!
Reivindico uma produção mais assídua destes mini-ensaios. Brilhante, Mestre Lamas.
E eis que mais uma vez surpreende com um texto de prosa tão poético que faz duvidar acerca do próprio género literário. Concordo rtp...resvala para a poesia.
Enviar um comentário